sexta-feira, 31 de maio de 2013

A representação da mulher na Literatura, uma discussão sobre a igualdade e o machismo;

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Na semana de 20 a 24 de maio ocorreu a nona semana de Ciência Sociais da USP, evento anual para discussões de importantes tópicos sociais e contemporâneos. Dentre os eventos, ontem, 23 de maio, houve uma palestra sobre “a representação da mulher na literatura”, um tópico muito pertinente visto que hoje há uma discussão em torno da igualdade dos direitos e o machismo da sociedade.

Para esta palestra, estiveram presentes Lola Aronovich (Universidade Federal do Ceará – UFC), Adélia Toledo Bezerra de Meneses (Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada /USP) e Giulia Manera (Letras/USP).

Inicialmente a apresentação do tema começou com Giulia, dupla doutoranda em literatura dos anos 30, abordou o tema dizendo que “a história das mulheres é uma história política” e escolheu o três livros que mostrassem uma visão diferente dos romances da época. Ela afirma que os principais autores homens dividiam as mulheres em dois tipos: prostitutas ou esposas. Não havia uma classificação intermediária. Defende Raquel de Queiroz como a grande primeira escritora brasileira que na década de 30 era estudada, engajada politicamente e enfrentava a estrutura familiar existente. Em um de seus romances, O quinze, ela escreve sobre uma professora de história que escolhe ser solteirona. Era uma visão completamente diferente e Giulia diz que até hoje é difícil encontrar livros que escrevam sobre solteironas felizes e por escolha. Acaba agradecendo a oportunidade de estar presente e passa a voz para Professora Adélia.

Com o slideshow aberto, a professora mostra pinturas brasileiras e músicas sobre o tema da mulher. Adélia distribuiu um papel contendo 4 letras musicais para serem analisadas na palestra. Todas eram de Chico Buarque. Infelizmente pela divisão do tempo ela conseguiu analisar apenas três. Angélica, Cala Boca, Bárbara e Meu Guri. As duas primeiras representam a época da ditadura militar. Na música Angélica o refrão

“Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar “

É a voz de Zuzu Angel que teve seu filho torturado e desaparecido pela ditadura. Adélia afirma que como professora de literatura não gosta de olhar a música apenas pelo contexto, mas diz que essa canção é literal, só existiu e representou a mãe de um dos tantos filhos perdidos pela ditadura. Quis ainda lembrar todos os presentes que “o Brasil foi o único que ainda não pagou a conta”, se referindo aos ditadores.

Cala Boca, Bárbara era a lembrança de Calabar, um português que ajudou os holandeses nas invasões do século XVIII. Ele foi considerado traidor e ninguém poderia falar o nome dele e ainda seria riscado de todo e qualquer tipo de documento existente em terras brasileiras. Chico criou a música em nome das mães que perdiam seus filhos, assim como Zuzu Angel, usou o nome Bárbara para foneticamente lembrar o som da palavra Calabar. Quando essa música foi lançada, Chico foi proibido de cantar e expor a letra, os jornais não só foram censurados sobre tal publicação como também não podiam dizer que haviam sido censurados.

A última música analisada, Meu Guri, retrata a alienação das mães faveladas. “E na sua meninice, ele um dia me disse que chegava lá” na primeira estrofe conecta com “Ele disse que chegava lá” da última, entretanto esta mãe não entende que a representação do filho no jornal era dele morto depois de ter sido capturado roubando. A letra é uma narrativa que descreve do começo ao fim a vida de um malandro e a inocência da mãe. Adélia aproveita até seus últimos segundos para exibir a capacidade do poeta em se colocar na posição da mulher. Termina citando Baudelaire: “Poeta dispõe do privilégio de ser ao mesmo tempo ele próprio e o outro”, ela ainda completa com “ou outra”.

Nos quarenta e cinco minutos finais, Lola Aronovich passa do ano de 1843 até a contemporaneidade. Leu trechos do conto Marca de nascença de Hawthorne que continua extremamente atual. Georgiana, a personagem principal, possui uma marca no rosto, o desenho de uma pequena mão na bochecha esquerda que ela passa grande parte da sua vida sem notar, até que um dia seu marido comenta como é assustadora aquela mancha e a partir de então Georgiana sofre por não ter uma beleza exemplar e decide que precisa “remover esta mão terrível, ou levar a minha vida miserável”. Hawthorne nos lembra que a humanidade não é perfeita e passamos uma vida inteira perseguindo este ideal. Lola diz que o autor expos as dificuldades femininas em um conto de uma forma simples, direta e bem trabalhada.


O segundo livro comentado foi Os sonhos de Sultão, escrito em 1905, por Roquia Sakhawat Hussain. É uma das primeiras escritoras de ficção científica, ela fala em captação das águas das chuvas e placas de energia solar. Ela cria um mundo utópico que chama de ‘ladyland’, lá as mulheres saem nas ruas e trabalham por duas horas, nada além do necessário, enquanto os homens são proibidos de sair de casa. Essas terras são atacadas e as mulheres de ‘ladyland’ vencem. Em um dado momento a Sultana acorda de seu sonho. Lola usa a palavra utopia e gosta de comentar que um de seus alunos se posicionou na aula para dizer que só seria utópico para uma mulher, para os homens seria um pesadelo. A partir disto ela começou uma grande discussão do papael da mulher na sociedade.

O livro seguinte foi A cor púrpura de Alice Walker que retrata a vida das negras americanas. Ela comenta sobre uma protagonista que chama Sofia, a qual não é a personagem principal. Durante o livro Sofia sofre agressões físicas e verbais, contudo ela é uma mulher forte e não se deia abalar e bate de volta. Isso acontece inclusive em uma passagem que o prefeito da cidade a convida para ser sua empregada e ela diz “Hell, no!”. O prefeito não aceita o desaforo e bate nela, e ela bate de volta deixando-o com olho roxo. Depois disso ela é espancada e perseguida por policiais.

Juntou o fôlego e terminou a apresentação falando do Precisamos falar sobre Kevin de Lionel Shriver. É uma narrativa recente que culpa a mãe de Kevin por ele ser um psicopata. Em nenhum momento da história o pai é responsabilizado, mesmo tendo dado um arco e flecha para criança. Isso só mostra a sociedade machista que aquela família esta incluída.

Foram duas horas de apresentação ininterruptas com tanta informação que não consegui anotar tudo. A visão das três mestras do palco eram tão diferentes, apesar de serem sobre o mesmo tema. É importante destacar que antigamente a literatura produzida por autores mulheres não eram consideradas dignas de serem lidas, entretanto isso está mudando. O estudo das três é feito através da posição feminina nos textos sejam eles abordados por homens ou mulheres a conclusão final é a representação que a sociedade tem da figura feminina. E esta com certeza é sempre bem distinta.

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