segunda-feira, 3 de junho de 2013

O movimento estudantil e a greve nas Estaduais – O (enérgico e intenso) reaparecimento do movimento estudantil


O movimento estudantil nada mais é do que a organização de um grupo de alunos, ou grupos, que promovem discussões e ações que se relacionam com temas que envolvem o Ensino Superior. Esse movimento já existe há muito tempo, quando estudantes se uniam por qualquer causa ou razão; contudo, depois da fundação das primeiras faculdades brasileiras, por volta de 1830, o movimento realmente começou a tomar uma forma mais organizada e de maior destaque. E então, aproximadamente cem anos depois, em 1937 foi criada a União Nacional dos Estudantes (UNE), a entidade brasileira representativa dos estudantes até os dias de hoje. Provavelmente, o momento de maior efervescência do movimento estudantil foi durante os anos 60 e 70. Por conta do conhecido golpe de 64, que instituiu a Ditadura Militar no Brasil, o movimento criou uma resistência contra o regime militar. Nos primeiros anos, indiretamente, por meio de músicas com conteúdo subliminar, jornais clandestinos e manifestações; quase no final da ditadura, em 1984, podemos destacar o movimento da população conhecido como “Diretas já!”, que teve participação ativa dos estudantes.
E agora, em 2013, o movimento estudantil está passando por um aparente processo de retorno, voltando a ter destaque em algumas universidades. Apesar de usarmos a expressão “volta do movimento”, ele nunca deixou de existir. Acontece que desde a época da Ditadura Militar poucas vezes o movimento estudantil criou ou participou de grandes manifestações… mas, como dito, até agora…

Greve discente nas Estaduais

No dia 17 de abril o movimento reacendeu suas chamas com muita energia, quando o campus de Ourinhos, da UNESP (Universidade Estadual Paulista), instituiu uma greve discente, com uma lista de polêmicas reivindicações. O campus de Marília, também da UNESP, seguiu a organização de Ourinhos e os estudantes declaram greve no dia 23 de abril. Três dias depois, 26 de abril, os alunos do campus da cidade de Assis, da mesma Universidade, também aderiram à greve e se juntaram ao movimento. É muito importante destacar que, como as manifestações, discussões e assembleias ainda estão acontecendo, muitas coisas podem mudar e a qualquer momento novas unidades ou universidades podem aderir à greve ou sair dela. Sendo assim, além dos três campi já citados, temos até a data de hoje, mais três unidades da UNESP em greve: o campus de Rio Claro, desde 23 de maio, o de São José do Rio Preto e o Instituto de Artes de São Paulo, ambos desde 27 de maio. Fora do Estado, a Universidade Estadual de Goiás (UEG) também está em greve, mas lá foi instituída uma greve geral, que envolve discentes, professores e funcionários.
Em linhas gerais, os movimentos de greve têm sido bem organizados e sem violência por parte dos estudantes.

Causas e reivindicações

Não há como desprezar o fato de que a maior parte das instituições em greve pertence a UNESP, e, dentro disso, grandes motivos que acarretaram a greve são internos, da Universidade e também de cada campus. Podemos destacar, de modo geral, a estrutura precária de algumas instalações, tanto dentro de cada campus, como também nas moradias estudantis; o não pagamento ou o pagamento atrasado de bolsas sócio-econômicas; relacionada com os dois primeiros pontos, a difícil permanência estudantil; e, por fim, a falta de transparência da Reitoria na tomada de decisões que podem ser, e são, do interesse dos alunos. A partir de todo o levantamento dos problemas, os alunos então se organizaram para discutir o que poderia ser feito e acabaram num procedimento às avessas: primeiro instituíram os movimentos de greve, apartidários, para depois pensarem em acordos e reivindicações. Um tanto radical, não?
Dentre as reivindicações elaboradas podemos citar: o pagamento dessas bolsas sócio-economicas, as melhorias estruturais das instalações e um maior apoio da Reitoria para a permanência estudantil.
Com a expansão do movimento pelo Estado, os campi em greve, e até os que têm indicativo de paralisação, conseguiram organizar um pequeno cronograma de reuniões com a Reitoria, para iniciar os processos de negociações. Mas, nem tudo no movimento diz respeito apenas a problemas internos, ao contrário, existem outras motivações, que, diga-se de passagem, são bem maiores.

Uma bandeira maior: greve pela educação!

Aparentemente, no meio de todas as discussões, reuniões, assembleias e atividades dos movimentos grevistas, os estudantes perceberam que todas as causas e reivindicações culminavam num só conceito: a educação em si. Desde então o movimento estudantil, muito coerentemente, levantou sua bandeira maior: melhorias na educação brasileira. Nesse campo, existem questionamentos em relação a “Categoria O” de professores, um grupo de docentes que não tem quase nenhum direito previsto em contrato e por isso lida com condições precárias para trabalhar e se manter trabalhando; e, ao PIMESP (Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista), um programa lançado no final de 2012 pelo governador do Estado de São Paulo, que prevê uma nova maneira de acesso às Universidades por parte da população com dificuldades sócio-economicas, mas lançado de forma totalmente obscura e sem transparência; não é claro, ou pelo menos de fácil entendimento, saber quem será beneficiado com o programa, como funcionará, quais serão os quesitos de avaliação e outras inúmeras incertezas que o envolvem. Ainda em relação ao PIMESP, o movimento grevista se manifesta a favor das cotas, mas contra a o projeto, questionando como ele será capaz de selecionar, por mérito, quem merece e quem não merece ingressar numa universidade pública.

Além dos estudantes…

Toda essa movimentação por parte dos alunos tem causado reflexos na sociedade, e acabam obrigando professores, funcionários, pais, estudantes de outras instituições e a mídia a tomarem posições.
Temos nota de que muitos professores foram contra os movimentos grevistas, alguns ameaçando turmas inteiras em relação a frequências e notas, ou, em casos extremos, até agressões físicas a alunos, como aconteceu no campus da UNESP de Rio Claro, em 28 de maio. Contudo, nem todos os professores se mostraram tão avessos aos movimentos, enviando cartas de apoio, fazendo paralisações de um dia e até participando das atividades promovidas pelos movimentos grevistas.
Os funcionários de alguns campi da UNESP, talvez empolgados com o movimento estudantil, também decidiram entrar em greve. Até o dia de hoje sabemos que os funcionários dos campi de Marília, Assis, São José dos Campos, Bauru e do Instituto de Artes de São Paulo estão em paralisação, sem previsão de volta. É importante realçar que, apesar de apoiarem o movimento estudantil, os funcionários têm suas próprias causas.
Boa parte da mídia não tem visto com bons olhos a movimentação grevista dos estudantes, e alguns jornais publicaram charges e pequenas notas criticando e até ridicularizando o movimento.

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