domingo, 11 de agosto de 2013

Cansado da mesmice no cinema? Indicamos 5 títulos em cartaz pra você, de fato, sair do comum

ferrugem e osso

EM CARTAZ | Ferrugem e Osso, Amor Pleno, Dossiê Jango, Depois de Lúcia, A caça
A todos os que não gostam ou simplesmente estão cansados dos lançamentos blockbusters que dominam os cinemas, selecionamos cinco filmes que estão em cartaz para aqueles que querem fugir das incansáveis animações, super heróis e apocalipses. O formato ficou diferente das resenhas costumeiras, com comentários mais breves, mas vale pelas indicações. Aproveitem!
FERRUGEM E OSSO (De rouille et d’os)
Os destinos de Alain e Stéphanie se cruzam no momento em que ela é vítima em uma briga de boate. Enquanto segurança do local, ele a leva, sangrando, até seu carro. Lá a moça ainda escuta ao fundo “Vadia!”, e no caminho até sua casa, Alain questiona a Stéphanie o porquê de ela se vestir, nas palavras dele, como uma puta. É nessa dureza escancarada, agravante ao longo de Ferrugem e Osso, que o público se vê preso no novo filme de Jacques Audiard, do ótimo O Profeta. A recusa do roteiro em se deixar levar pelo sentimentalismo eleva o trabalho a um nível de crueldade e honestidade ímpar. As dores de uma relação entre dois personagens cicatrizados pela vida extrapolam tanto na subjetividade que, sem hesitar, se tornam visuais, físicas. Lágrimas e sangue se misturam numa história difícil e absurdamente comovente, mesmo com o esforço dos realizadores em tomar uma posição fria em relação aos seus protagonistas. E é justamente nesta frieza que os personagens ganham uma força tal a ponto de permitir que seus destinos desgraçados sejam transformados em uma bela metáfora ao final do longa. Bela é também a entrega de Marion Cotillard ao papel, se desfazendo de qualquer tipo de vaidade ao assumir brilhantemente o sofrimento de Stéphanie ao lado do também louvável Matthias Schoenaerts. A câmera na mão, a trilha sonora impactante e as cenas de sexo visualmente inesperadas ainda são atributos desta obra cheia de personalidade.
AMOR PLENO (To the Wonder)
O filme de realização mais rápida de Terrence Malick, que costuma demorar anos para lançar novos projetos, é também o seu mais problemático. Seguindo a proposta de “A árvore da vida”, Malick adota aqui os planos maravilhosos, a característica mise en scène e uma fotografia de babar. É uma pena, entretanto, que se deixe tomar por tamanha superficialidade, exigindo do espectador certa paciência. Primeiro porque não dá motivos. Sim, os conflitos, dúvidas e inseguranças estão lá, mas falta ao enredo certa complexidade para reforçar o que é retratado lindamente nas imagens. Segundo, pela parte da narrativa que conta os dilemas do Padre Quintana, um tanto frágil e destoante do longa como um todo. Ainda assim, é um trabalho acima da média, um deleite aos olhos e ao coração daqueles que se permitem guiar pela proposta do conteúdo. As coreografias e movimentos do quarteto de belos atores são capturados com esmero invejável. O resultado é positivo. Amor Pleno é quase como um poema interminável, daqueles bem românticos e prolixos, cuja contemplação supera o cansaço.
DOSSIÊ JANGO
Nos primeiros minutos de Dossiê Jango o espectador já se vê encantado pela figura de João Goulart, retratado em uma contextualização política didática e eficaz. É quando lança sua aparente teoria da conspiração, entretanto, que o documentário de Paulo Henrique Fontenelle revela uma posição questionadora surpreendente. Em meio a imagens e áudios de arquivo revoltantes, como diálogos na Casa Branca sobre uma possível intervenção militar no Brasil, o longa faz de uma ideia a princípio absurda, uma quase certeza quando os créditos surgem na tela: o assassinato do presidente João Goulart. Intercalando entrevistas importantíssimas e documentos reveladores, o filme reúne pistas que convencem o público a, no mínimo, duvidar da causa da morte do ex-presidente. E quando certo entrevistado se posiciona contra a ideia que o filme apresenta, é quase impossível controlar o desprezo por ele. O material é tão bem articulado e claro em situar o espectador dos fatos, que é funcional tanto pelo viés biográfico como o de denúncia. Necessário e urgente, figura entre os mais inteligentes do ano.
DEPOIS DE LÚCIA (Después de Lucía)
Ainda tentando superar o luto da perda da própria mãe, Alejandra, uma adolescente recém-chegada na escola, é exposta em um vídeo de sexo que vai parar na internet. Incomunicável com o pai profundamente enlutado, a guria aceita a humilhação e rejeita qualquer tipo de reação que poderia ter em relação aos vexames a que é submetida. Em Depois de Lúcia, filme de Michel Franco, o público é conduzido a um processo de flagelação psicológica perturbador. O bullying hiperbólico sofrido por Alejandra é de uma crueldade tal que a garota é incapaz de assumir o caso ao próprio pai. O longa sofre de claro maniqueísmo, mas seus exageros acabam sendo fundamentais ao despertarem no público, desesperadamente impotente, a repulsa frente as atitudes atrozes e inconsequentes de uma geração. Muito mais por seu papel social oportuno do que pelos atributos criativos, Depois de Lúcia retrata com eficiência uma alarmante realidade.
A CAÇA (Jagten)
Em A Caça,  o sempre interessante Mads Mikkelsen interpreta um professor do jardim de infância divorciado e que ainda tenta a guarda do filho. Apesar dos conflitos, o personagem é bem resolvido na profissão que tem em uma pequena cidade onde vive rodeado de antigos amigos. É quando uma aluna, Klara, o acusa de abuso sexual que o longa assume uma postura um tanto original: ele deixa claro ao espectador que o protagonista é inocente, mas a comunidade toda se volta contra ele. A escolha do roteiro e a direção de Thomas Vinterberg apostam na angústia sufocante ao invés da dúvida, o que acertadamente leva o público a um incômodo constante e crescente ao longo da projeção. A atuação de Mikkelsen (premiado em Cannes pelo papel) é delicada e precisa e só faz intensificar a carga emocional do espectador, que testemunha o calvário do protagonista. A pedofilia, aqui, é apenas um ponto de partida para discutir a perigosa instabilidade do convívio social. É excelente.

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